DA PRODUÇÃO AO CONSUMO: APROPRIAÇÃO CRIATIVA E CULTURAL NA PAISAGEM

Renata Carrero Cardoso, Carolina Gallo Garcia

Resumo


Os movimentos urbanos de retomada de áreas centrais e pericentrais de grandes cidades, outrora abandonadas e negligenciadas tanto pelo mercado imobiliário como pelo poder público no decurso dos processos de desindustrialização operam, atualmente, a partir de mudanças valorativas, a instauração de novos referenciais estéticos, de estilos de vida e padrões familiares. A aceitabilidade de tais movimentos pelo mainstream produz novos conjuntos de valores sociais e culturais da cidade, que se refletem em mudanças paradigmáticas nas formas de consumo e de apropriação do espaço intraurbano, resultando em transformações significativas para a construção e percepção da paisagem. Jovens profissionais urbanos, categorizados sob o conceito da classe criativa, com frequência tomam a frente nos processos de ressignificação e legitimação simbólica de áreas industriais esvaziadas, o que evidencia a importância e o valor econômico de suas atividades na transição da era industrial para a era da economia do conhecimento, apoiados fortemente no desenvolvimento do setor de serviços e na demanda por produtos com alto teor simbólico e elevado valor econômico. Estabelecem-se assim, as bases para uma forma de intervenção no território impulsionada pelo capital cultural, capaz de promover a transformação radical de uma paisagem urbana de produção em uma paisagem de consumo. Neste trabalho, buscou-se verificar mudanças na paisagem e nas suas formas de fruição, colocadas em marcha no atual processo de requalificação do chamado Quarto Distrito da cidade de Porto Alegre a partir de uma análise do bairro Floresta. Ainda, buscou-se depreender em que medida as práticas criativas sobre determinada área detêm a capacidade de produzir novos valores sociais e econômicos a elementos constituidores da paisagem urbana.


Texto completo:

PDF

Referências


ARAÚJO, V. J. Lapa carioca, uma (re)apropriação do lugar. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional, UFRJ, 2009.

ARGAN, G. C. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fonte,1995.

AZEVEDO, A. F. Geografia e cinema: Representações culturais de Espaço, Lugar e Paisagem na Cinematografia Portuguesa. Tese de doutoramento. Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho. Portugal, 2006.

BERQUE, A.. Paisagem-marca, paisagem-matriz: elementos da problemática para uma geografia cultural. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (orgs). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998.

BIDOU-ZACHARIASEN, C.. De volta à cidade: dos processos de gentrificação às políticas públicas de “revitalização” dos centros urbanos. 1ª.ed. São Paulo: Annablume, 2006.

COSGROVE, D. A Geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (orgs). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998.

CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. Tradução Luciano Vieira Machado. 4ª ed. São Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2006 (1992).

DIEESE, Salário mínimo nacional. Disponível em: . Acesso em 27 jun. 2017.

FLORIDA, R. A ascensão da classe criativa. Tradução Ana Luiza Lopes. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011 [2002].

GUIMARAENS, R. A enchente de 41. 1ª ed. Porto Alegre: Libretos, 2009.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª Ed.Editora Atlas S.A. São Paulo: 2008.

HAMNETT, C.. The blind men and the elephant: the explanation of gentrification. Transactions of the Institute of British Geographers, New Series, v. 16, n. 2, p. 173-189, 1991.

OBSERVA POA. Observatório da cidade de Porto Alegre. Disponível em: . Acesso em 27 jun. 2017.

PDDUA. Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Secretaria do Planejamento Municipal. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental. Porto Alegre, 2010.

PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Lei complementar nº 43 de 21 de julho de 1979. Porto Alegre, 1979. Disponível em: . Acesso em: 27 jun. 2017.

______. Lei nº 2046 de 30 de dezembro de 1959. Porto Alegre, 1959. Disponível em: . Acesso em: 27 junho 2017.

______. Secretaria do Planejamento Municipal. Termo de referência para contratação de consultoria. Grupo de Trabalho 4º distrito, 2015.

RUPERT, E. S. The Moral Economy of Cities: shaping good citizens. Toronto: University of Toronto Press, 2006

SCOTT, A. J. The Cultural Economy of Cities. London: Sage, 2000.

SMURB. Secretaria Municipal de Urbanismo. Revitalização Urbana e reconversão econômica do 4º distrito. Apresentação do diagnóstico. Porto Alegre, 18 de dezembro de 2015. Disponível em: . Acesso em: 27 jun. 2017.

TICCIH. Carta de Nizhny Tagil sobre o patrimônio industrial. The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH). Nizhny Tagil, 2003.

ZUKIN, S.. Loft Living: Culture and Capital in Urban Change. Newark: Rutgers University Press, 1989

______. Paisagens urbanas pós-modernas: mapeando cultura e poder. In: ARANTES, A. A. (org). O espaço da diferença. Campinas, SP. Ed. Papirus, 2000.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2017 Renata Carrero Cardoso, Carolina Gallo Garcia

| Boletim Geográfico do Rio Grande do Sul | Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão - RS | ISSN 2446-7251 |